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A campanha que todo mundo amou. Menos os neonazistas
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Matéria publicada no Brazil Journal em 23 de fevereiro de 2023

NOVA YORK — Criada para comemorar o Dia Internacional da Memória do Holocausto, a campanha Viver Para Contar. Contar Para Viver já teve mais de 180 milhões de visualizações desde que foi ao ar em 27 de janeiro.

Em três filmes, de dois minutos cada, a campanha mostra o depoimento de três refugiados judeus sobreviventes do Holocausto. Sentados em um estúdio de filmagem, eles se apresentam e narram momentos dilacerantes, em cenas preto e
branco.

Gabriel Waldman, nascido na Hungria em 1938, diz que apanhou de um estranho na rua, com socos e cacetete, Incitando seu cachorro a lhe morder, o agressor dizia que pessoas como Gabriel “não deveriam existir.”

Joshua Strul, um romeno de 84 anos, relatou o dia em que foi cercado por pessoas muito mais fortes que ele, que começaram a xingá-lo. Bateram tanto que lhe quebraram o nariz. “Saí correndo. A multidão de gente em volta de mim não
levantou um dedo para me defender, ” disse Joshua.

Ruth Sprung Tarasantchi, de 89, veio da Iugoslávia (hoje Bósnia), e conta que sofreu bullying na escola a ponto de largar os estudos. Quanto mais assumia sua identidade, maior era a intolerância ao redor. Os meninos que antes a paqueravam
passaram a atravessar a rua.

Mas – no plot twist que é a grande sacada da campanha – os relatos chocam (ainda mais) quando os três revelam que nenhum dos episódios aconteceu com eles.

Todas as vítimas eram brasileiras – assim como seus agressores. E todos, muito mais jovens do que os narradores. Nessa hora, o filme ganha cor.

Na verdade, Gabriel estava contando a violência racial vivida pelo músico Odivaldo da Silva, o Neno, de 55 anos.

Joshua revelava as agressões sofridas por André Baliera, de 38 anos, vítima de homofobia. E Ruth contou a dura história da indígena Naiá Tupinambá, de 19 anos.

A campanha é apoiada pela Unesco, Confederação Israelita Brasileira (Conib) e o Museu do Holocausto de Curitiba. O conceito foi de Vitor Elman, da agência Cappuccino Digital.

“O Vitor me ligou no dia 22 de dezembro, contou a ideia e tivemos um mês para preparar, ” disse Sabrina Nudeliman Wagon, CEO da Elo Studios, uma produtora com histórico de entretenimento de impacto.

“O holocausto nazista é incomparável. Mas é importante mencionar o que tem acontecido com grupos minorizados: os negros, os indígenas, as mulheres, a comunidade LGBTQ+, ” disse ela. “O desafio era transmitir uma mensagem que
ressoasse para além da comunidade judaica, trazendo o tema para a realidade atual.” A equipe trabalhou durante as férias e pro bono, uns abrindo mão de salário, outros doando tempo. Entre eles, o diretor de cinema Cao Hamburger (O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias), cujos familiares sobreviveram ao Holocausto, o ator Caco Ciocler, que narrou os vídeos, e o autor da trilha sonora, Ruben Feffer (O Menino e o Mundo), da produtora Ultrassom. Em um mês, a campanha estava no ar.
“Cada fala traz um aspecto individual e coletivo. E também representa uma viagem no tempo, ligando o que aconteceu há mais de 70 anos com o que inegavelmente acontece hoje, ” diz Feffer, cuja família chegou no Brasil antes da Primeira Guerra,
fugindo dos pogroms na Rússia. “É uma outra forma de holocausto.”

“A comunidade judaica sempre girou em torno do coletivo, acho que me conectei com isso. A música saiu na minha primeira sentada ao piano, seguindo as três partes de cada história. Mesclamos a sonoridade do Leste Europeu com a brasileira,
refletindo essa fusão de tempos e cultura, ” disse Feffer, que trouxe o violinista Vitor Zafer para o projeto.

As histórias dos brasileiros foram tiradas dos jornais. A escolha dos três priorizou personagens com personalidades fortes e confortáveis em dividir suas experiências. “A Naiá é militante: além de sua voz, ela traz representatividade para todo o grupo.
O André é engajado no movimento contra a homofobia. O Neno não é militante, mas é muito carismático. É muito fácil a gente ter empatia com a história dele, ” diz Sabrina.

O Museu do Holocausto e a CONIB assessoraram a equipe na seleção dos sobreviventes. Dona Ruth, por exemplo, chegou em São Paulo aos 13 anos, em 1947, depois de sair da Iugoslávia e passar a guerra na Itália, onde foi presa num campo de
Mussolini Historiadora e artista plástica, ela contou sua vida no livro “A História de Ruth” e tem cinco bisnetos – o sexto está a caminho. “Recebi um material para ler sobre a Naiá. Como bom diretor, na hora da filmagem o Cao foi conversando comigo, contei a minha história, e relatei a dela com as minhas palavras. Nada estava escrito, ” conta ela.

Nenhum dos três sobreviventes do holocausto sabiam que Naiá, André e Neno estariam no estúdio. Foi uma surpresa.
“As cenas destes encontros são de uma energia tão grande que mudamos os acordes finais para refletir esta esperança. Este é o poder e a responsabilidade da música, ” disse Feffer.

 

ASSISTA

Gabriel Waldman e Odivaldo da Silva (Neno)

Joshua Strul e André Baliera

Ruth Sprung Tarasanchi e Naiá Tupinambá

 

Leia Viver para Contar. Contar para Viver .

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